quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre o CRUSP e permanência estudantil

O CRUSP é um dos símbolos mais expressivos do projeto de universidade que Reitoria e Governo do Estado pretendem implementar na USP. A Redução dos 12 blocos originais ocupados por estudantes nos ‘60 para 8 blocos hoje, a política de vigilância da SAS (Coseas)sobre os corredores e portarias mórbidos da moradia, seus relatórios invasivos que registram desde as visitas até o conteúdo das discussões dos moradores, a coação de estudantes que têm sua permanência na moradia condicionada a tratamento psiquiátrico e uso de medicamentos, o projeto histórico de implementação de catracas e mensalidades no CRUSP, que vira e mexe volta à pautada Reitoria e da SAS, além da varredura ideológica constante são prova do avanço da repressão e da privatização da universidade desde a moradia estudantil. Ultimamente, Waldyr Antonio Jorge e Rodas têm avançado cada vez mais em um projeto de “higienizar”o CRUSP, pautados na histórica avaliação (já escancarada em diversos documentos que vieram à tona) de que a moradia é um ninho de “pessoas drogadas e subversivas”. Exemplos dessas medidas “moralizantes”da reitoria são as ordens para tirar todos os objetos do corredor, a proibição de andar sem camisa no CRUSP e o cúmulo a que chegou Waldyr Antônio Jorge, que trouxe um grupo de evangélicos para pregar na moradia, dando a eles, inclusive, subsídio para comerem no bandejão. Medidas mais antigas continuam vigentes e cada vez mais acirradas, como o controle acadêmico dos moradores e de quem recebe bolsa alimentação.

Tudo isso não à toa: em uma universidade extremamente elitista e racista como a USP, o CRUSP abriga uma grande parte dos poucos filhos de trabalhadores e negros que conseguem passar pelo filtro social do vestibular. Aos olhos da Reitoria, extirpar esse foco de resistência é um passo necessário para o projeto de uma universidade “de elite” que esteja nos rankings internacionais, pautados em critérios de produtivismo acadêmico, que nada têma ver com uma universidade voltada às necessidades dos trabalhadores e da população pobre que financia a USP. Consonante ao projeto de ir acabando com a permanência estudantil, a Reitoria precisa implementar dura repressão a todos os que resistam. Por isso,não é coincidência que os oito estudantes eliminados no final de 2011 sejam todos do CRUSP, bem como os que receberam suspensões há algumas semanas. Também não é à toa que, após a desocupação da reitoria com a tropa de choque, o próximo alvo tenha sido a Moradia Retomada.

Diante deste cenário nefasto, em que se reativa o projeto da ditadura militar para a moradia estudantil, nada fi zeram as gestões do DCE e AMORCRUSP. De um lado, a gestão do Diretório Central, Não vou me Adaptar (PSOL e PSTU), que passava longe de acompanhar, quanto menos apoiar, a luta daqueles que resistiam na defesa do CRUSP e que foram penalizados por lutar por permanência e contra a repressão de Rodas e Waldyr. De outro, a Associação dos Moradores, gestão Unidade Cruspiana, que com seu imobilismo, atrelando-se por vezesà própria SAS, como síndicos do CRUSP, preocupavam-se apenas com as tarefas cotidianas de administradores de máquinas e vídeos, enquanto Waldyr perseguia, suspendia e expulsava moradores (como Amanda e seu fi lho de menos de um ano, no bloco A) com base nos processos obscuros abertos pela Reitoria e no regimento de Gama e Silva, de 1972.

Consideramos ser papel fundamental do movimento estudantil lutar pela democratização radical da universidade, levantando a universalização do acesso a partir da luta pelo fi m do vestibular (que existe apenas em dois países da América Latina, Chile e Brasil) e estatização das universidades privadas. Contudo, tão necessária quanto garantir o acesso é uma luta pela permanência estudantil plena, para que todos os que necessitem tenham vagas garantidas nas moradias, no Butantã e demais campi; por alojamentos para todas as mães;por creches para todas as estudantes e trabalhadoras que necessitem; pela expansão dos bandejões e contratação de funcionários para suprir a demanda; por bolsas de estudo que garantam o custo de vida dos estudantes e não tenham nenhuma contrapartida acadêmica.

A única chapa de DCE que levanta tais demandas é a chapa Cícera, além da chapa 27 de outubro. Nós, no começo do ano, compusemos a 27 de outubro como resultado de uma frente única que se consolidou na greve de 2011, entre diversas correntes e estudantes independentes que estiveram na linha de frente da luta. Contudo, ao longo do ano, enquanto os estudantes que compõem a chapa Cícera estiveram na linha de frente de todos os fóruns do ME para lutar pelo nosso programa, outros setores se abstiveram da luta, ou mostraram uma postura vanguardista que em nada contribuiu para conseguirmos acabar com os processos e democratizar a universidade. Para nós uma frente única que defenda um programa não pode se dar apenas nas eleições, mas tem que ocorrer nas lutas cotidianas,das quais estes setores abriram mão. Por isso, não concordamos com as críticas quenos fazem PCO e POR, que mantêm o nome “27 de outubro” de forma oportunista, mesmo sendo apenas uma pequena minoria dos setores que construíram esta chapa no início do ano. Dizem que “rompemos a unidade” dos setores combativos, mas esta ruptura se deu na prática ao longo do ano.

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